Coisas de Alice Ateliê

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Testemunho de um Filho

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Perdoe-me Pai. É importante que leia o meu desabafo. Sempre falei que quando crescesse, queria ser igual ao Senhor, mas infelizmente, eu mudei de idéia, não imagina o que sofremos quando anoitece e não vem para o jantar, pois só chega em casa de madrugada, assim mesmo embriagado.

Olhe, não me importa que chute os meus brinquedos, pise-os, atire-os contra as paredes, bata raivoso em mim sem motivo, quando lhe pergunto: Por que o senhor não deixa de beber?

Pai, não me envergonho de usar roupas velhas, sapatos furados e nem me incomodo com o pouco alimento que como. Na verdade, nada disso teria importância se o senhor não bebesse. Por favor, não fique parado nos bares perdendo o seu tempo, seu dinheiro e sobretudo sua saúde, bebendo e farreando ao lado daqueles que dizem ser amigos. Lembre-se que nós precisamos do Senhor! Eu queria apenas tê-lo em casa toda à noite para dizer antes de deitar: Bença Pai!

Sabe, eu senti muita pena vê-lo um dia desses deitado na calçada. Os garotos que passavam começaram a atirar-lhe pedras e seus cigarros estavam espalhados pelo chão, seus bolsos revirados e lá estava uma garrafa de cachaça quebrada aos pés. Pedi para que não fizessem aquilo e eles me perguntaram:

      - Você conhece esse cachaceiro? Poxa, Pai, tive vontade de dizer NÃO! Mas lembrei-me que certa vez me disse:

      - Filho, o verdadeiro homem não diz mentiras. Então tomei coragem e respondi:

      - Sim, conheço, é o meu Pai!

Eles riram e falaram:

      - Se fôssemos você teríamos vergonha de chamar esse bêbado de Pai!

Abaixei a cabeça, humilhado, meus olhos encheram-se de lágrimas e chorei. Tentei erguê-lo, pedi para que se levantasse, enxuguei o seu rosto suado pelo sol do meio dia. Contudo os meus esforços foram inúteis. O senhor parecia não ouvir, gemia, dizia palavras incompreensíveis e rolava de um lado para outro na calçada imunda.

Os garotos foram embora dizendo:

     - Você está lidando com um pau d'água sem vergonha, deixe-o ai, pode ser que ao tentar atravessar a rua, um caminhão passe por cima dele e o mate. Pai, foi duro ouvir aquilo. Aí senti como se o mundo inteiro desabasse sobre mim.

Querido Pai, por que o senhor não procura Alcoólico Anônimos para deixar de beber? Talvez seja sua grande oportunidade. Não se envergonhe, lá eles irão recebê-lo bem.

Antes de terminar, quero que saiba de uma coisa. O voto que fiz de amá-lo e respeitá-lo, querer-lhe bem, hei de cumprir sempre, mas quando eu crescer não quero ser igual ao Senhor.


Paulista
22/12/2009

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